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O nascente no mar.

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O nascente no mar.

O nascente no mar. Nasce mais um dia sendo cutucado pela minha mãe às 4:15 da manhã para tomar café com beiju, mas ainda grogue de sono. Viro o meu corpo e sento na beirada da cama ainda somando forças para levantar, mas a minha mãe apressa com palavras:- Levanta logo João! Seu pai já tomou o café e está te aguardando! Levanto-me e tomo rapidamente um banho antes de sair.

Visto-me, tomo o meu café, passo o protetor solar e pego o meu boné rumo a pescaria com o meu pai e os demais pescadores. O céu ainda estava estrelado, um dos poucos privilégios na vida dos pescadores que moram próximo da praia. Empurramos os barcos, 4 no total em direção ao mar. O silêncio era quebrado com as águas batendo na areia e o falatório dos pescadores.

Após chegarmos no local que habitualmente pescamos, o silêncio retorna. Ninguém fala mais nada e as redes foram jogadas ao mar e com toda a nossa força, puxamos a rede abarrotada de peixes e frutos do mar, uma fartura para o mercado de peixes em Salvador com a minha fé no Salvador e nos seus alunos que pescaram peixes e homens.

Logo em seguida, vejo os primeiros raios de sol no horizonte onde o mar toca o céu, um sol avermelhado. Voltamos para a praia e descarregamos os peixes para que possam serem comercializados bem cedo e faturarmos um bom dinheirinho. Saio satisfeito, assim como o meu pai, caminhando para casa descalço nas areias da Baía de todos os santos. Durante o trajeto, deparo-me com um homem de cabeça branca, violão e uma voz que encantaria as sereias, caso elas existissem.

Fiquei extasiado por estar cantado uma canção homenageando os pescadores:- O pescador tem dois amor, um bem da terra; um bem do mar. O pescador tem dois amor, um bem da terra; um bem do maaar!!Paro na frente dele e lhe pergunto:- O senhor é pescador? Ele respondeu:- Não meu jovem, mas sim, músico.A pele bronzeada e braços fortes escamoteou o seu verdadeiro ofício e paixão. Antes de seguir em frente com o meu pai, perguntei o seu nome e ele respondeu:- O meu nome é Dorival Caymmi, mas os amigos só me chamam de Caymmi.

E o seu? Qual é o seu ofício? -Meu nome é João e sou pescador.Sem jeito e ainda hipnotizado pela música, esqueci de apresentar o pai para aquele simpático senhor. O meu pai olhava para ele de uma forma esfuziante e ao mesmo tempo como se tivesse visto um fantasma. Despeço-me do senhor Caymmi, mas antes de seguir o meu caminho, elogiei-o pela música, apologia aos pescadores e a voz que Deus lhe deu. Ainda meio atônito, meu pai se despediu de uma forma acanhada, mas sorridente. Seguimos em frente e pude ver o meu pai rindo durante o trajeto. Perguntei-lhe:- Por quê está rindo meu pai?- Ah meu filho; a pesca foi muito boa e conheci Caymmi. Sua mãe não vai acreditar!

Fiquei um pouco confuso, mas satisfeito por ter conhecido um senhor tão simpático, boa pesca, a brisa do mar, o meu pai feliz e ter presenciado mais uma vez o nascente na Baía de todos os santos!