Personagens relevantes da história de Cordeiropolis: Manoel Morgado Zuzarte
Em nossas pesquisas, muitas vezes conseguimos encontrar descrições tão marcantes de pessoas que há muito tempo faleceram, ou cujos descendentes já não se encontram há tempos na cidade, que nos deixaram intrigados por saber mais sobre sua existência.
Dentre os perfis que nos interessaram em quase trinta anos de pesquisas, está o de Manoel Morgado Zuzarte. Um comerciantes mais antigosda cidade, sua primeira citação em documentos e arquivos conservados é sua nomeação, pelo padre Serafim Augusto da Cruz, para membro do Conselho Paroquial da Freguesia de Santo Antonio dos Cordeiros.
Antes disso, conforme apontamos mais uma vez em outra oportunidade, em agosto de 1902 foi feita uma representação pelos cidadãos do então distrito de paz de Cordeiro, solicitando sua elevação a categoria de Município, o que, como vimos, fracassou.
Os signatários do documento mais relevantes eram: os fazendeiros Reginaldo de Moraes Salles e JulioDamm; Manoel das Neves, rico proprietário local; o padre Francisco Marotta Schettini, Alexandre Baroni, proprietário de uma fábrica de fotos, Giacomo Frattini, negociante e proprietário, Batista Stocco, negociante, um dos mais ricos componentes do distrito em sua época; Francisco O´Flaherty, farmacêutico e lavrador, Manoel Morgado Zuzarte, negociante, Henrique Dias, comerciante; Arcanjo Panhoca, industrial, João Frattini, negociante e João Lucke, negociante e proprietário.
Vale lembrar que há 120 anos a população de Cordeiro, compreendendo o núcleo urbano e sua extensa zona rural, sem delimitação definida, compreendia 2.500 habitantes, número que ainda é maior do que muitas cidades atualmente pelo País, conforme descrição do Juiz da Comarca de Limeira à época.
Da parte de Limeira, o objetivo era evitar que Cordeiro se emancipasse, e com isso, ela informou uma situação pior: que a localidade tinha somente 1.500 habitantes e 135 casas, o que parece refletir a realidade, pois naquela época só havia o centro e o Bairro do Cascalho.
Veja que mesmo indicando que a atividade comercial de Morgado era antiga, somente em 1905 é que encontram-se registros na Junta Comercial do Estado de São Paulo, conforme publicação de 10 de dezembro, onde se anota: “De Manoel Morgado Zuzarte, da praça de Cordeiro, para ser anotado no exemplar do registro de sua firma a declaração que faz de seu capital”.
Somente depois de muito tempo é que aparecem registros sobre Manoel Morgado Zuzarte, especialmente após seu falecimento. De acordo com o Diário Oficial do Estado de 10 de fevereiro de 1945, foi aprovado pelo Conselho Administrativo do Estado (que fazia as vezes de Assembleia Legislativa na época da ditadura de Getúlio Vargas) um projeto de decreto-lei da Prefeitura de Limeira, autorizando a venda, mediante concorrência pública, uma parte de uma casa situada na Rua Toledo Barros, nº 26, com 456 m2, com 35,40 de frente para esta rua, 12,90 do lado direito e 35,40 m nos fundos, onde confrontava com propriedade de Esteves Junior & Cia.
Conforme registros de fontes indiretas da época, esta firma era proprietária do famoso Cine Paulista, existente na Rua 7 de Setembro onde atualmente é a sede da ACORAC. De acordo com o Parecer nº 128, assinado pelo eminente jurista Miguel Reale, a prefeitura de Limeira estava submetendo a referida proposta legislativa, para vender a parte ideal que ela possuía em uma área de terreno situada em “Vila Cordeiro” (sic), recebida do espólio de Manoel Morgado Zuzarte, como pagamento de dívidas de impostos.
Devido ao pequeno interesse da Prefeitura de Limeira com seu acervo histórico, dificilmente encontraremos, nem talvez sequer em papel, o Decreto-Lei que foi originado desta proposta.
Uma situação que poderia gerar confusão era a existência de referências a “outro” Manoel Morgado Zuzarte, desta vez compondo a lista de eleitores da quinta seção para as eleições de 7 de dezembro de 1952, que iriam compor a Câmara e a Prefeitura para o mandato entre 1953 e 1957. Isto fica esclarecido por documentação do próprio Cartório de Registro Civil e Anexos, onde se encontra uma escritura de adoção feita pelo “velho” Manoel Morgado Zuzarte a uma criança que passaria a ter o mesmo nome dele – Manoel Morgado Zuzarte.
Parece claro que o segundo Manoel não ficou na cidade. Dentre as poucas publicações oficiais em que o citam, está a que foi feita em 31 de julho de 1992, quando o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Paulista, com sede em Campinas, publicou edital sobre as chapas registradas para as Eleições Sindicais, que iriam ser realizadas em 1º de setembro daquele ano, em que constava Manoel Morgado Zuzarte (filho) como membro do Conselho Fiscal da Chapa nº 1.
A última referência ao “filho do outro” é o Inventário de 1996, aberto por sua viúva, Aparecida Peres Zuzarte, em Campinas, o que significava que naquela época ele já era falecido. Em 14 de agosto de 2000 a Justiça de Campinas informava que estava autorizada a retirada de um alvará judicial solicitado pela inventariante.
Em outras oportunidades iremos falar de outros personagens relevantes que passaram por nossa cidade e deixaram traços fortes de sua existência.