Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos
Se não perder a vista só em vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto,
mas eu, por de vantagem
merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los,
Donde já não me fica mais de resto.
Assim que a vida e alma e
esperança,
E tudo quanto tenho, tudo é vosso,
E o proveito disso eu só o levo.
Porque é tamanha
bem-aventurança
O dar- vos quanto tenho e quanto posso,
Que, quanto mais vos pago,
mais vos devo.
Luís de Camões